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O PIB, e daí?¹

 

“Ninguém come PIB, come alimentos” – (Maria da Conceição Tavares)

 

Fonte: criada pela IA do Canva.

 

Por Junior Garcia

 

A economia e a sociedade elegeram o Produto Interno Bruto, o famoso PIB, como a principal métrica de progresso econômico, frequentemente utilizado também como indicador de desenvolvimento econômico. Governos, empresas e a mídia o utilizam para avaliar o desempenho econômico de um país ou região. Quando o PIB aumenta, parece haver um alívio geral; mas, quando não cresce ou declina, surge um ambiente de pânico. Nesse cenário, todas as outras questões socioeconômicas parecem perder prioridade em nome da recuperação e do contínuo aumento do PIB. Contudo, essa fixação obsessiva faz sentido?

O PIB, que mede o valor monetário total dos bens e serviços finais produzidos em um país em determinado período, é útil para duas finalidades: informar sobre a produção econômica e seu aumento no tempo. Embora esse indicador ofereça uma noção superficial de crescimento econômico, apresenta sérias limitações. O PIB, por exemplo, não distingue entre atividades econômicas que melhoram as condições para a vida daquelas que as prejudicam. Tudo é incluído na conta do PIB, como se todas as atividades econômicas contribuíssem de maneira equivalente para as condições para a vida. Para a Economia Ecológica, essa visão não é apenas insuficiente, mas perigosa.

Como aponta o estudo “Além do PIB: uma visão crítica sobre os avanços metodológicos na mensuração do desenvolvimento sócio econômico e o debate no Brasil contemporâneo”, o PIB ignora os impactos e custos ambientais e sociais da produção econômica. Um país que degrada sua base ambiental, polui seus rios e compromete a biodiversidade pode registrar um aumento do PIB, mas o custo do crescimento do PIB – degradação ambiental, perda de serviços ecossistêmicos e mudanças climáticas – permanece invisível. É como vender as joias da família para pagar as contas do mês: o balanço financeiro pode até melhorar temporariamente, mas o patrimônio está se esvaindo.

Além disso, o PIB não reflete a distribuição da produção (renda) econômica gerada. O PIB pode aumentar enquanto a desigualdade socioeconômica se aprofunda, como ocorreu no Brasil entre 1967 e 1973, e em muitos países, inclusive nos países considerados desenvolvidos. O crescimento econômico (leia-se crescimento do PIB) pode beneficiar uma pequena parcela da população, a elite econômica e política, enquanto a maioria continua a enfrentar dificuldades e a ter acesso limitado aos bens e serviços essenciais. O aumento do PIB em países com grandes desigualdades frequentemente esconde ou agrava problemas estruturais, em vez de resolvê-los, e pode até agravar questões ambientais, como as mudanças climáticas e a contaminação da água e do ar.

A Economia Ecológica nos convida a repensar essa obsessão pelo crescimento econômico (do PIB). O subsistema econômico não deveria ser utilizado (organizado) apenas para promover o aumento constante da produção e do consumo, mas sim para proporcionar as condições para a vida, respeitando a capacidade de suporte dos ecossistemas (sustentabilidade ecológica) e na promoção da justiça social. Em outras palavras, o subsistema econômico deveria garantir as condições para a vida.

Para os economistas ecológicos, debates sobre “decrescimento“, “pós-crescimento” e “além do PIB” têm sido abordados na academia e na política. Isso não significa rejeitar o desenvolvimento socioeconômico, mas sim um olhar mais crítico sobre a busca incessante pelo crescimento do PIB, como um fim em si mesmo. A questão é mudar as prioridades ou o propósito do subsistema econômico. Em vez de focar no aumento da produção desenfreada de bens materiais – muitas vezes descartáveis e prejudiciais à saúde humana e ambiental –, devemos concentrar nossos esforços na regeneração dos ecossistemas e na garantia universal das condições para a vida.

A pandemia de COVID-19 ofereceu um exemplo claro do que significa colocar as condições para a vida acima do PIB. Enquanto o PIB despencou, governos e comunidades foram forçados a reavaliar suas prioridades: a saúde pública, a segurança alimentar e a resiliência comunitária tornaram-se centrais. Ficou claro que não vivemos de números ou de dinheiro ou comemos PIB – como afirmou Maria da Conceição Tavares, mas das condições reais para a vida. Da mesma forma, a emergência climática nos obriga a abandonar a obsessão pelo crescimento do PIB, e adotar métricas que capturem o verdadeiro estado das nossas economias, sociedades e ecossistemas.

Indicadores complementares já existem, como o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), a Pegada Ecológica e o Índice de Progresso Genuíno (IPG). Esses indicadores são mais abrangentes, levando em conta fatores econômicos, ambientais e sociais, e são mais adequados para avaliar o que realmente importa: a garantia das condições necessárias para a vida.

O estudo “Estimating the Genuine Progress Indicator (GPI) for Brazil from 1970 to 2010” (Estimativa do Indicador de Progresso Genuíno (IPG) para o Brasil de 1970 a 2010, tradução do Google Tradutor) estimou o Índice de Progresso Genuíno (IPG) para o Brasil. Os resultados revelaram que há um deslocamento do PIB total e per capita do IPG total e per capita no Brasil.

Por fim, ao questionarmos “O PIB, é daí?”, a resposta da Economia Ecológica é clara: o propósito do subsistema econômico não deve ser o crescimento do PIB. O verdadeiro desenvolvimento está em construir uma sociedade que respeite os limites ecológicos, promova a justiça social e assegure as condições para a vida das gerações presentes e futuras. Como afirmou Maria da Conceição Tavares, “Ninguém come PIB, come alimentos” e, tampouco o PIB, por si só, responde aos desafios para garantir a universalidade das condições para a vida.

 

Junior Garcia – Professor do Departamento de Economia e Coordenador do Grupo de Estudos em MacroEconomia Ecológica (GEMAECO) da Universidade Federal do Paraná.

 

Notas

¹ O Chat GPT foi utilizado na revisão da redação e organização do artigo. 

 

 

 

 

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