“Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma” (Antoine Laurent Lavoisier).

Por Junior Garcia

O sistema econômico auxilia na organização social e material da produção de bens e serviços essenciais para a sociedade. A produção corresponde a transformação de recursos naturais com o auxílio de elementos construídos pelas pessoas, como máquinas, equipamentos e outras estruturas, energia e do trabalho e do conhecimento humano. Esta transformação envolve, portanto, a interação entre sistemas, como o sistema natural, provedor de recursos naturais, o sistema técnico, composto pelas máquinas e equipamentos já construídos pela sociedade, e pelo sistema humano ou social, representado pelas pessoas.

Isso significa que a Economia, entendida como sistema socioeconômico¹, é um subsistema do subsistema natural (ecossistema). Os sistemas técnico e humano são parte do subsistema natural, além de serem sustentados por este. O sistema natural também é um subsistema, sustentado pelo fluxo de energia solar. Cabe destacar que o subsistema natural é fundamental para assegurar a vida, humana e não-humana. Se “A Economia” é uma criação humana, portanto, só pode ser vista como um subsistema do subsistema natural. Mas qual é a importância deste entendimento? Por que é importante reconhecer “A Economia” ou “sistema socioeconômico” como subsistema do subsistema natural?

Preparado por Junior Garcia.

A produção de bens e o provimento de serviços exigem a utilização de recursos naturais (materiais), como matéria e energia retirada do subsistema natural. Por conseguinte, a produção socioeconômica corresponde a uma transformação de matéria e energia disponível na natureza (subsistema natural) em bens essenciais para a sociedade. As transformações de matéria e energia² são investigadas pela Física Termodinâmica, sujeitas a 1ª e 2ª Leis da Termodinâmica.

A 1ª lei da termodinâmica é a Lei da Conservação de Energia, que mostra que a energia não pode ser criada ou destruída, mas apenas transformada. Isso significa que a entrada de uma determinada quantidade de energia (ou matéria) em um subsistema “socioeconômico” será a mesma na saída, mas em formas diferentes. A “produção”, portanto, é uma transformação qualitativa de energia e matéria. No entanto, este processo é ineficiente, ou seja, ocorrem perdas de energia e matéria. É aí que entra a 2ª Lei da Termodinâmica, a Lei da Entropia, que indica esta perda ou “ineficiência” dos sistemas termodinâmicos, mas também sustenta o caráter irreversível dos processos econômicos e biofísicos.

A energia e a matéria são encontradas basicamente em duas formas no subsistema natural, a energia (matéria) de baixa de entropia, que possui a capacidade de realizar trabalho (útil), e a de alta entropia, que perdeu a capacidade de realizar trabalho, ou seja, resíduo. Em resumo, a Economia, entendida como subsistema socioeconômico, não cria nada, não produz nada, apenas transforma energia e matéria de baixa entropia disponível no subsistema natural em bens para a sociedade, ao mesmo tempo em que gera resíduos, na forma de energia e matéria de alta entropia. Quais são as implicações deste entendimento para a sociedade e para a Ciência Econômica e para a sociedade?

Junior Garcia – Professor do Departamento de Economia e Coordenador do Grupo de Estudos em MacroEconomia Ecológica (GEMAECO) da Universidade Federal do Paraná.

Fontes

Lavoisier, A-L. Elements of chemistry: in a systemic order, containing all the modern discoveries. Translated by Robert Kerr. Dover Publications INC: New York, 1965.

Notas

¹ ver artigo Economia?

² em sua famosa equação E = mc² (E é a energia, m a massa e c a velocidade da luz), Einstein estabeleceu a equivalência entre matéria e energia. Ver artigo de Lana.