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Loucos, ou economistas?¹

“Os que acreditam ser possível o crescimento infinito em um planeta finito ou são loucos, ou são economistas” – (autoria indeterminada)
 

Por Junior Garcia

 

Fonte: criada pela IA do Canva.

 

Na visão da Economia Ecológica, a Economia é entendida como um subsistema socioeconômico que depende de um fluxo contínuo (e crescente) de matéria e energia proveniente do ecossistema natural. Este, por sua vez, é materialmente fechado ao fluxo de matéria, o que significa que os recursos disponíveis são finitos. Esse ponto de vista oferece uma nova perspectiva para entender as relações entre sociedade, economia e meio ambiente. Mas quais são as implicações dessa visão para a Ciência Econômica e para o nosso modo de vida?

A primeira grande implicação é o reconhecimento de que a economia real, enquanto sistema econômico, está limitada por barreiras biofísicas. Assim como o ecossistema global opera sob as Leis da Conservação de Energia e da Entropia, a economia, como subsistema, também não pode crescer infinitamente. Em outras palavras, há um limite físico para o crescimento econômico (leia-se crescimento do Produto Interno Bruto – PIB) que não pode ser ignorado. Ignorar essas restrições é uma das maiores falhas da abordagem tradicional da economia, que muitas vezes trata o crescimento contínuo do PIB como desejável e ilimitado.

A Ciência Econômica precisa incorporar a realidade de que o ecossistema global desempenha um papel fundamental na sustentação da vida e na dinâmica socioeconômica. Na esfera social, o ecossistema global é responsável por fornecer as condições básicas que tornam possível a existência humana, como o clima relativamente estável, o oxigênio para a respiração, água potável e recursos naturais para alimentação e abrigo. Sem esses serviços oferecidos pela natureza, não há possibilidade de subsistência humana, muito menos a produção econômica.

Na esfera econômica, os processos de produção dependem diretamente do uso de recursos naturais. A produção de bens e serviços só ocorre graças ao fluxo contínuo (e crescente) de matéria e energia provenientes do meio ambiente, os quais são transformados pelo trabalho humano e por máquinas fabricadas pela sociedade. O ecossistema também é o destino final dos resíduos gerados pela atividade econômica. Isso porque os recursos naturais são complementares no processo produtivo, e não substituíveis como adotado pela teoria econômica, a partir da ideia de sustentabilidade fraca. A ideia de que podemos substituir integralmente recursos naturais por tecnologia é ilusória, pois o funcionamento das tecnologias ainda depende dos insumos materiais e energia oferecidos pela natureza.

Para a sociedade, a principal implicação dessa visão ecológica da economia é o reconhecimento de que existem limites claros ao crescimento econômico, à produção e, consequentemente, ao consumo. Esses limites se manifestam tanto na disponibilidade de recursos quanto na capacidade do ecossistema global de absorver os resíduos gerados pelas atividades humanas. A crença de que o estilo de vida dos países desenvolvidos pode ser universalizado sem provocar desequilíbrios ecológicos irreversíveis é uma falácia. Desde o famoso estudo do Clube de Roma, Os Limites ao Crescimento (1972), até as reflexões de Celso Furtado em O Mito do Desenvolvimento Econômico (1974), há décadas cientistas e pensadores alertam para a inviabilidade de um crescimento econômico contínuo e sem restrições.

Ainda assim, a sociedade do século XXI segue perseguindo o mito do desenvolvimento econômico ilimitado, desconsiderando as advertências sobre os impactos ecológicos e sociais de um modelo de crescimento desenfreado. A pergunta que fica é: estamos, de fato, condenados a repetir esse ciclo de busca incessante pelo crescimento, mesmo sabendo que ele não é sustentável? Se insistirmos nesse caminho, seremos loucos, ou apenas economistas?

 

Junior Garcia – Professor do Departamento de Economia e Coordenador do Grupo de Estudos em MacroEconomia Ecológica (GEMAECO) da Universidade Federal do Paraná.

 

Fontes

Meadows, Donella H., Meadows, Dennis L., William Behrens III, Jørgen Randers. The limits to growth. The Club of Rome, 1972.

Furtado, C. O mito do desenvolvimento econômico. 1974.

 

Notas

 

¹ O Chat GPT foi utilizado na revisão da redação e organização do artigo. 

² ver artigo Economia?

³ ver artigo A Economia como subsistema

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