“A humanidade tem a capacidade de tornar o desenvolvimento sustentável para garantir que ele atenda às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atender às suas próprias necessidades.” (Relatório Nosso Futuro Comum).
Preparado pelo Microsoft Copilot.
Por Junior Garcia
O conceito de desenvolvimento sustentável surgiu na década de 1980, com o relatório Brundtland. Esse relatório definiu que o desenvolvimento sustentável como aquele que atende às necessidades da geração atual sem prejudicar as futuras gerações. No entanto, é um conceito muito vago e não existe um entendimento claro sobre o que realmente significa.
Em 1992, na ECO-92, realizada no Rio de Janeiro, quase 200 países concordaram que o desenvolvimento econômico deveria ser substituído pelo desenvolvimento sustentável. Desde então, a ideia de “desenvolvimento sustentável” passou a ser amplamente aceita por acadêmicos, governos, empresas e organizações internacionais. A ideia de que é possível crescer economicamente (leia-se crescimento do PIB – Produto Interno Bruto) sem prejudicar o meio ambiente soa promissora, mas esconde uma contradição fundamental: como é possível expandir continuamente a produção e o consumo econômico em um planeta com recursos finitos?
Esse paradoxo se reflete em termos como “crescimento sustentável”, “crescimento verde” e “capitalismo verde”, que combinam ideias opostas e criam a falsa impressão de que é possível harmonizar crescimento econômico e preservação ambiental. A Economia Ecológica, um campo de estudos que destaca os limites do crescimento, alerta que a busca incessante pela expansão econômica inevitavelmente leva ao aumento do consumo de energia e recursos naturais, além da geração de resíduos que afetam diretamente a vida, agravando a crise socioecológica.
O problema começa pelo próprio termo “desenvolvimento sustentável”, que raramente é definido claramente. Para muitos economistas e formuladores de políticas, significa apenas aumento da eficiência tecnológica e a substituição de fontes poluentes por alternativas supostamente mais limpas. No entanto, essa abordagem ignora um efeito perverso: o aumento da eficiência tende a reduzir os custos de produção e, paradoxalmente, incentivar maior consumo e produção — um fenômeno conhecido como o Paradoxo de Jevons. Por exemplo, uma lâmpada LED consome menos energia do que uma incandescente, mas isso não necessariamente reduz o consumo total de energia, pois pode incentivar o uso de mais lâmpadas ou luzes acesas por mais tempo ou a destinação dos recursos para novos usos energéticos. Isso ocorre basicamente em função da lógica de que o desenvolvimento é sinônimo de produção e consumo crescentes (crescimento econômico), ou seja, de que o subsistema socioeconômico deve crescer continuamente. Em resumo, não existe saciedade para o consumo humano, valendo o axioma da microeconomia convencional “de que mais é sempre melhor”.
Outro grande mito é o da “compensação ambiental”, amplamente usado por empresas e políticos para justificar suas práticas. Sob essa lógica, desmatamentos podem ser “compensados” com o plantio de árvores em outro lugar, e emissões de carbono podem ser “neutralizadas” por investimentos em reflorestamento. Mas reflorestar uma área não substitui os serviços de uma floresta nativa, e créditos de carbono não impedem o aquecimento global se as emissões continuam aumentando.
A ideia de “capitalismo verde”, “crescimento verde” ou “crescimento sustentável” vende a ilusão de que mercados e tecnologia resolverão a crise socioecológica sem mudanças estruturais na economia e na sociedade. A verdade é que os interesses de curto prazo raramente são compatíveis com a preservação ambiental e o bem-estar. A exploração da Amazônia, por exemplo, cresce sob a justificativa do “desenvolvimento sustentável” e da inclusão econômica de sua população, mas na prática resulta na destruição de biodiversidade e na expulsão de comunidades tradicionais e dos povos originários que vivem há séculos em relativa harmonia com a floresta, isso porque sua organização econômica e social respeita a capacidade de suporte dos ecossistemas.
Para enfrentar esses desafios, a Economia Ecológica propõe uma mudança de paradigma. Em vez de focar no crescimento econômico, a prioridade deve ser garantir condições dignas de vida para todos dentro dos limites do planeta. Isso significa (re)distribuir riqueza e a produção, reduzir desigualdades e valorizar organizações sociais que respeitam os ciclos naturais, como fazem muitas comunidades originárias, tradicionais e rurais. Em vez de insistir em um modelo econômico que esgota os recursos, baseada no descarte indiscriminado dos resíduos, devemos repensar nossas necessidades reais e adotar ações que promovam a suficiência e o bem-estar coletivo.
A transição para uma Economia Ecológica exige novos indicadores de progresso. O PIB, por exemplo, mede apenas a soma das transações econômicas, sem diferenciar se são benéficas ou prejudiciais à sociedade e ao meio ambiente. Precisamos de métricas que considerem a regeneração dos ecossistemas, a qualidade de vida e a distribuição justa dos recursos.
O desenvolvimento sustentável, como propagado hoje, é um mito que mantém intactas as estruturas de poder e os interesses de poucos. Para enfrentar a emergência climática, a crise socioecológica e construir um futuro verdadeiramente sustentável, devemos abandonar a ilusão do crescimento econômico infinito e adotar uma visão que respeite os limites ecológicos do planeta e promova a justiça socioambiental. O que está em jogo não é apenas o meio ambiente, mas a própria viabilidade da vida humana na Terra.
Junior Garcia – Professor do Departamento de Economia e Coordenador do Grupo de Estudos em MacroEconomia Ecológica (GEMAECO) da Universidade Federal do Paraná.
Notas
¹ O Chat GPT e Microsoft Copilot foram utilizado na revisão da redação, organização e na ilustração do artigo.
Tags: crescimento sustentável, crescimento verde, Sustentabilidade