“Esta nova meta financeira é uma apólice de seguro para a humanidade, em meio ao agravamento dos impactos climáticos que atingem todos os países. Mas, como qualquer apólice de seguro, ela só funciona se os prêmios forem pagos integralmente e em dia. As promessas devem ser cumpridas para proteger bilhões de vidas.” (Simon Stiell, Secretário Executivo da ONU para Mudanças Climáticas, no encerramento da COP29).
Preparado pelo Microsoft Copilot.
Por Junior Garcia
Não é mais possível negar o agravamento dos eventos climáticos. Em janeiro de 2025, foi registrado o maior desvio da temperatura média global em relação ao período pré-industrial, da ordem de 1,75°C. Essa marca não é apenas um número; é a prova incontestável do fracasso da elite política e econômica global no enfrentamento das mudanças climáticas. Ou talvez apenas seja a revelação de uma farsa, de que nunca houve qualquer tentativa séria de enfrentamento das mudanças climáticas e da crise socioecológica que agora assola as populações mais vulneráveis. É igualmente inegável que a principal causa desse desastre está nas emissões de gases de efeito estufa oriundas da queima de combustíveis fósseis e da degradação dos ecossistemas. Logo, combater as mudanças climáticas passa, necessariamente, pela redução drástica na extração, produção e consumo dessas fontes energéticas e a recuperação de ecossistemas vitais para sustentar a humanidade.
Para isso, é imprescindível investir em alternativas que sejam verdadeiramente independentes da cadeia de combustíveis fósseis, desde a extração de recursos, provisão de serviços até o descarte dos bens de capital e de consumo. Além disso, é fundamental reduzir o consumo energético. Também é inegável que já ultrapassamos a capacidade de suporte de vários ecossistemas, como evidenciado pelo estudo das fronteiras planetárias do Stockholm Resilience Centre. A realidade é que nosso subsistema socioeconômico é insustentável e nunca será viável sem uma redução significativa da produção e do consumo econômico.
As mudanças climáticas são tema constante em foros multilaterais como as Nações Unidas e o Fórum Econômico Mundial. Nem mesmo a elite econômica global nega a gravidade dos riscos ambientais, pelo menos, em seus discursos. De acordo com o Relatório Anual de Riscos Globais do Fórum Econômico Mundial, os riscos ambientais se tornaram a maior fonte de preocupação a longo prazo e devem se intensificar na próxima década. Entretanto, os países ditos desenvolvidos e a elite econômica continuam sustentando a falácia de que faltam recursos monetários e financeiros para enfrentar a crise socioecológica e promover o enfrentamento das mudanças climáticas. Isso é um embuste. Não existe restrição monetária e financeira para construir uma sociedade mais justa e sustentável, tampouco para o enfrentamento das mudanças climáticas. A suposta escassez de recursos monetários e financeiros é uma narrativa convencionalmente elaborada por aqueles que lucram com a degradação ambiental e social e sustentada por economistas que atuam como guardiões – verdadeiros leões de chácara – desse sistema.
A hipocrisia desse discurso é evidente. Durante a crise financeira de 2008, os governos despejaram trilhões de dólares no mercado para resgatar bancos e especuladores, garantindo que o cassino financeiro seguisse funcionando. Nenhum economista liberal se levantou contra essa avalanche de dinheiro, pois, afinal, era necessário salvar o “livre mercado” e proteger os privilegiados do sistema. Da mesma forma, nunca faltam recursos para financiar guerras e genocídios, sempre travadas sob a justificativa do “bem contra o mal” e da defesa da democracia e da liberdade. Realmente somos livres nas supostos democracias? Veja a avalanche de deportações sobre as falsas justificativas de que de todas as pessoas são criminosas. Do mesmo modo que existiam armas de destruição em massa no oriente médio. Da mesma forma, não há limites financeiros para garantir a continuidade da cadeia de combustíveis fósseis e os privilégios das elites econômicas.
Os subsídios para combustíveis fósseis seguem fluindo em volumes obscenos. De acordo com estimativas de Hannah Ritchie, os subsídios globais explícitos para essa cadeia econômica atingiram US$ 1,5 trilhão em 2022 — cerca de R$ 9 trilhões. Se incluídos os custos socioambientais, esse montante salta para US$ 7 trilhões (R$ 42 trilhões) em 2022, segundo relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI). Essa cifra, vinda de um organismo que de maneira alguma pode ser considerado ambientalista radical, escancara a mentira da escassez de recursos.
Os subsídios implícitos incluem danos como a poluição atmosférica, que afeta diretamente a saúde humana e gera impactos climáticos devastadores. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que mais de 4 milhões de pessoas morrem precocemente a cada ano devido à poluição do ar. Ainda assim, os discursos oficiais persistem na ladainha da restrição monetária e financeira para resolver problemas sociais e ambientais. Nem as milhões de pessoas que perdem precocemente suas vidas, os incêndios e as inundações recorrentes, que assolam milhões, se não, bilhões de pessoas, parecem afetar a solidez mentira da escassez de recursos monetários e financeiros.
A academia, que deveria operar com base em evidências e metodologias científicas, segue refém dos dogmas do pensamento econômico convencional, perpetuando cenários fictícios que justificam a inércia política e econômica. Os economistas se tornaram doutores nessa defesa, verdadeiros leões de chácara apostos para defender qualquer ameaça aos dogmas econômicos, dentre eles, o mito do crescimento econômico sustentável. A pergunta que se impõe é: até quando aceitaremos passivamente essa farsa? O tempo para ilusões acabou. Cada dia perdido significa mais vidas ceifadas, humanas e não-humanas. Se dinheiro nunca falta para guerras e crises bancárias, por que continuamos aceitando a mentira de que ele falta para enfrentar a crise socioecológica?
Junior Garcia – Professor do Departamento de Economia e Coordenador do Grupo de Estudos em MacroEconomia Ecológica (GEMAECO) da Universidade Federal do Paraná.
Notas
¹ O Chat GPT e Microsoft Copilot foram utilizados na sugestão de termos e ideias, revisão da redação, organização e ilustração do artigo.
Tags: crescimento sustentável, crescimento verde, mudanças climáticas, Sustentabilidade