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Por Daniel Caixeta Andrade
De maneira geral, pode-se dizer que, no seu sentido ético, valor diz respeito àquilo (conduta, ações e reações, pensamentos, ideias etc.) que é coletivamente apreciado e compartilhado por um grupo social num determinado tempo e espaço. Representa, pois, a base sobre a qual se dão as condições para a sociabilidade humana. Tais valores não são estanques ao longo do tempo. Ao contrário, são muito dinâmicos e o fenômeno das redes sociais – com a exponenciação das interações humanas no ambiente virtual – tende a aumentar a velocidade de consolidação ou abandono de valores.
O estudo dos valores é essencial para as ciências sociais. Enquanto ciência social, o estudo da economia é profundamente conectado (ou pelo menos deveria ser) aos valores. A dinâmica do sistema econômico se dá por meio de interações permanentes entre os chamados agentes econômicos e o seu meio. Mas quem são esses agentes? São pessoas de carne e osso ou instituições criadas por essas mesmas pessoas de carne e osso. Pessoas que têm suas particularidades, histórias, experiências e idiossincrasias. Pessoas que foram marcadas por valores socialmente compartilhados, os quais influenciaram decisivamente sua maneira de ver o mundo e tomar suas decisões. É nesse sentido que se critica o movimento histórico feito pelo mainstream da ciência econômica de se afastar de sua origem enquanto ciência moral para se pretender cada vez mais parecida com uma hard science.
O resultado foi um significativo empobrecimento da análise econômica, cujo objeto de estudo passou a ser quase exclusivamente a eficiência alocativa. Pretendeu-se esquecer o seu componente ético-normativo para que ela pudesse se tornar uma ciência positiva. Autores como o economista indiano Amartya Sen lamentam profundamente a perda do sentido ético no debate econômico. Afinal, qual é o propósito de todo o empreendimento econômico erigido pela sociedade industrial? A reintrodução do sentido ético no debate econômico – aqui significando a volta de discussões sobre propósitos e finalidades – se faz necessária para que a sociedade possa avançar no seu processo civilizador.
Nas últimas semanas, a sociedade brasileira vem acompanhando com estupefação a sordidez dos planos para corromper definitivamente a nossa democracia. Não que os ataques à democracia brasileira tenham sido inéditos, mas a baixeza dos crimes tramados é chocante. Muito mais do que um regime político, a democracia pode ser vista como um valor em si. Em última instância, é a partir da ideia de democracia que são emanados valores democráticos socialmente compartilhados. Em sendo assim, atualmente economia e democracia são temas quase que inseparáveis, pois o destino das sociedades e o sucesso de seus sistemas econômicos dependem das formas pelas quais as decisões são tomadas.
Assim como a democracia, a sustentabilidade ambiental também pode ser vista como o novo grande valor emergente na sociedade. Embora não tenha uma definição clara, é quase consensual entre as pessoas que a sustentabilidade ambiental deve ser um critério ou parâmetro a ser observado em qualquer curso de ação. Já em 1992, durante a famosa Cúpula da Terra na cidade do Rio de Janeiro, os países haviam acordado em elevar a pauta da sustentabilidade ao status de tópico de primeira grandeza em suas agendas nacionais de desenvolvimento. É surpreendente, entretanto, que tamanha aceitação da ideia não tenha se refletido em ações para uma busca efetiva do desenvolvimento sustentável.
Democracia e sustentabilidade são temas muito mais próximos do que se imagina inicialmente. Um futuro desejável e sustentável para todos depende de escolhas democráticas feitas pelas sociedades. Muitos acreditam que alcançar um sistema capitalista ecologicamente regulado é impossível. É certo, porém, que os níveis de regulação ecológica que o sistema aceitará dependerão da sua própria percepção de sobrevivência e de consensos democraticamente pactuados.
Por Daniel Caixeta Andrade, Professor Associado do IERI-UFU e membro do GEMAECO.
Tags: democracia, Justiça Social, Sustentabilidade