Menu

Sistema econômico: um organismo vivo que se expande e gera custos

 

Por Daniel Andrade

 

Já no primeiro semestre letivo do curso de ciências econômicas, todo estudante se depara com um conceito muito simples, mas de muita importância para a análise econômica: o custo de oportunidade. Por que o conceito é simples? Porque para todos nós é intuitivo que toda decisão que tomamos gera uma abdicação, um sacrífico. Se eu escolho me casar, devo renunciar à vida de solteiro (a). Se decido fazer o curso de biologia, devo abrir mão de (ao mesmo tempo ou no mesmo turno) fazer o curso de economia. Mesmo sem perceber diretamente, as pessoas incorrem em custos de oportunidade a todo instante.

Por que o custo de oportunidade é importante? Pelo fato de que ele é o definidor mais básico da racionalidade das nossas escolhas. Ora, se eu não consigo – ou se é muito intolerável – sacrificar minha vida de solteiro (a), talvez não seja racional tomar a decisão de me casar. Se para mim é muito custoso abrir mão de fazer o curso de economia em determinado momento da minha vida, certamente não é nada racional, nem mesmo inteligível, decidir por frequentar outro curso nesse mesmo momento.

Todas essas considerações podem parecer muito frívolas e triviais. Mas uma análise mais detida pode revelar pontos interessantes. Na teoria econômica, por exemplo, custo de oportunidade é um conceito que está muito presente na análise microeconômica. Os consumidores têm que fazer escolhas sobre o que consumir e quanto consumir, dadas as suas preferências e restrições orçamentárias. Os produtores, por sua vez, devem incluir o custo de oportunidade das escolhas realizadas em termos dos fatores de produção utilizados. A bem da verdade, para os produtores, o custo de oportunidade é o que diferencia o custo contábil e o custo econômico.

Já na análise macroeconômica, é muito menos frequente a consideração dos custos de oportunidade. E quando tais custos se manifestam na forma de sacrifícios do capital natural, os custos de oportunidade são quase sempre ignorados. É o caso, por exemplo, dos custos de oportunidade gerados pela expansão física do sistema econômico. Este último não se movimenta sobre o nada, mas sim sobre uma base material-energética que o suporta. E esse aumento físico do tamanho do sistema econômico por meio da maior produção de bens e serviços – o famoso “crescimento econômico” que os economistas mensuram pelo Produto Interno Bruto (PIB) – altera quantitativa e qualitativamente esse suporte físico. Logo, é inegável que existem custos de oportunidade associados ao crescimento econômico.

No último dia 3/09/2024 foi publicizada a taxa de crescimento do PIB brasileiro no 2º trimestre de 2024. A variação de 1,4% em relação ao trimestre imediatamente anterior surpreendeu, porque os especialistas esperavam que o desastre climático do Rio Grande do Sul, ocorrido em maio desse ano, afetasse negativamente o indicador. Como aparentemente não houve esse “efeito negativo gaúcho”, a impressão equivocada que pode prevalecer é que o sistema econômico é suficientemente resiliente para suportar as perturbações de ordem natural. Ou que os custos de oportunidade gerados pelo crescimento econômico em termos de perda de capital natural – e consequente perda de resiliência natural, aumentando o potencial destrutivo desses eventos – não são importantes. Afinal, o PIB sempre se recupera!

Não se trata aqui de menosprezar o resultado positivo obtido pela economia brasileira. São válidas, contudo, algumas provocações, que se tornam desafios teóricos e metodológicos importantes. Quais os custos de oportunidade, principalmente em termos ambientais, associados a essa expansão econômica? Como mensurá-los? O principal indicador de crescimento econômico – o PIB – é metodologicamente coerente para lidar com esses custos?

 

Por Daniel Caixeta Andrade, Professor Associado do IERI-UFU e membro do GEMAECO.

 

 

UFPR nas Redes Sociais

UFPR no Flickr
Universidade Federal do Paraná
Grupo de Estudos em MacroEconomia Ecológica – GEMAECO
Av. Prefeito Lothário Meissner, 632, térreo, Jardim Botânico
Fone(s):
CEP 80210-170 | Curitiba | Parana


©2024 - Universidade Federal do Paraná

Desenvolvido em Software Livre e hospedado pelo Centro de Computação Eletrônica da UFPR