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Curitiba, a cidade mais igualitária e inclusiva do Brasil, será mesmo?

 

Tatiana Neller¹

Junior Garcia²

 

Fonte: criada pela IA do Canva.

 

Foi amplamente (e equivocadamente) divulgado em veículos de notícias públicos e privados, e nas redes sociais, que Curitiba seria a capital mais igualitária do Brasil a partir de uma pesquisa do Instituto Cidades Sustentáveis sobre desigualdade entre as capitais brasileiras. Mas o que mostram outras pesquisas, dados ou informações sobre inclusão social em Curitiba?

Em 2024 foi publicado o Índice de Progresso Social (IPS Brasil)[1], uma iniciativa que busca quantificar o que realmente importa para as pessoas, para além da perspectiva econômico-monetária. O IPS Brasil inclui necessidades básicas, como moradia, alimentação e segurança, acesso à informação e comunicação, e se as pessoas são tratadas igualmente, independentemente de gênero, raça ou orientação.

Os resultados do IPS Brasil 2024 mostram que Curitiba estaria, no quesito inclusão social, na posição 5.177 entre 5.570 cidades. Esse parâmetro inclui informações sobre a paridade de gênero e racial na Câmara Municipal e a violência contra povos indígenas, mulheres e negros. Observa-se que é uma abordagem restrita de inclusão. No entanto, o resultado não deveria surpreender, porque diariamente é possível observar sinais de que Curitiba precisa avançar na questão da inclusão social.

Essa realidade também é reforçada pelos resultados do projeto de extensão “Mapa das Desigualdades na Região de Curitiba”, desenvolvido pelo GEMAECO (Grupo de Estudos MacroEconomia Ecológica) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em parceria com a Kurytiba Metropole. Os dados utilizados nos documentos publicados com os mapas para a região de Curitiba incluem dados da RAIS (Relação Anual de Informações Sociais), responsável por oferecer informações sobre o mercado de trabalho formal no Brasil.

O percentual de rendimento médio mensal real de pessoas pardas e pretas, no mercado de trabalho formal de Curitiba, em comparação com as pessoas brancas, era equivalente a 74,5% e 74,8% respectivamente, em 2021. O cenário não é ideal e, quando comparado com as 13 cidades que formam o Núcleo Territorial Central de Curitiba, área de estudo do projeto de extensão, Curitiba é colocada em situação pior do que outros municípios menores em termos econômicos, como Almirante Tamandaré, Campo Magro e Piraquara.

A baixa inclusão também pode ser observada na desigualdade de renda em relação ao gênero. Em termos da proporção do rendimento real médio mensal no mercado de trabalho formal, os resultados mostram que as mulheres recebem o equivalente a 84,8% do rendimento recebido pelos homens no Núcleo Territorial Central de Curitiba, mas com variação de 70,7% (Araucária) a 100,4% (Campo Magro). Curitiba registrou 83,5%, colocando-a em sétima posição entre as 13 cidades da região analisada.

Curitiba, como sexto município com maior Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2021, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sendo o maior e mais rico da região Sul, deveria ser mais inclusiva, além de menos desigual. Esta situação coloca em dúvida as afirmações divulgadas na imprensa e nas redes sociais de que seria a cidade “mais igualitária do país”.

É urgente que governos municipais e a sociedade civil reconheçam que infelizmente o crescimento de suas cidades e do Produto Interno Bruto (PIB) não estão sendo inclusivos, porque parcela importante da população está ficando para trás. Mesmo cidades menores que, muitas vezes, possuem menos capital para investimento em políticas de inclusão, não estão deixando parcela da população para trás. Se faz necessária a proposta de novas políticas públicas pensadas de forma participativa para a redução das desigualdades de Curitiba e região.

 

¹ Tatiana Neller – Estudante de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Paraná.

² Junior Garcia – Professor do Departamento de Economia e Coordenador do Grupo de Estudos em MacroEconomia Ecológica (GEMAECO) da Universidade Federal do Paraná.

 

[1] O IPS Brasil é uma colaboração entre o Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), Fundação Avina, Centro de Empreendedorismo da Amazônia, iniciativa Amazônia 2030, Anattá – Pesquisa e Desenvolvimento, e o Social Progress Imperative.

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