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Covid-19, as Pessoas e a Economia

Por Junior Garcia

Disponível no Medium.

As expectativas de mercado do Banco Central do Brasil (BCB), publicadas no dia 08 de maio de 2020, indicam uma queda de 4,25% da Economia Brasileira em 2020, ou seja, do Produto Interno Bruto (PIB). Este cenário tem sido influenciado pela pandemia de covid-19, que exigiu a adoção de medidas, como o isolamento social e o lockdown, as quais afetam negativamente as atividades econômicas. Apenas o setor agropecuário tem expectativa de crescimento de 1,95%.

Expectativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) Brasileiro total e por grandes setores econômicos para 2020: atualização 08 de maio de 2020. Fonte: preparado pelo autor com base em BCB.

Neste momento de pandemia, a preocupação deveria ser a preservação da vida, mas o debate sobre como “salvar a Economia”, “salvar empregos” e a “Economia pós-pandemia” ainda está muito presente na sociedade. Estas questões estão tão presentes na sociedade, que têm afetado a efetividade das medidas contra a covid-19 no Brasil e em outros países. Apesar do elevado número de pessoas mortas no mundo, estimado em mais de 283 mil até 10 de maio de 2020; no Brasil alcançou 11.123as pessoas ainda insistem em desrespeitar as orientações de isolamento social. Este desrespeito não coloca apenas a vida da pessoa em risco, mas de toda a comunidade.

Antes de discutir quais devem ser as medidas econômicas a serem adotadas neste momento de pandemia e no pós-pandemia, é preciso ter claro o que é esta tal de Economia. Neste aspecto, por que a sociedade “inventou” a Economia? Qual é o real objetivo da Economia?

O termo “Economia” utilizado pelas pessoas e tomadores de decisão é aquele entendido como sistema econômico. Então, quando alguém afirma que precisamos “salvar a Economia”, na verdade, estaria, consciente ou inconscientemente, referindo-se “precisamos salvar o sistema econômico”. Mas o que é o sistema econômico?

O sistema econômico é a forma pela qual a sociedade organiza a produção bens e serviços e sua distribuição, cujo objetivo é atender as necessidades essenciais das pessoas. Então, o objetivo da Economia — sistema econômico — não é a geração de emprego ou renda, mas fornecer os meios necessários para a sobrevivência humana, tais como alimentação, moradia, serviços de saúde etc. A partir desta consideração, o sistema econômico está ameaçado com a pandemia de covid-19?

Diagrama do Fluxo Circular da Renda e do Produto. Ver O que é fluxo circular de renda

Cabe destacar que existem diversas formas de organização do sistema de produção e distribuição de uma sociedade. No século XXI, a organização predominante na escala nacional e global de sistema econômico é o sistema capitalista. Uma das características do sistema capitalista, dentre outras, é a necessidade de “dinheiro” para viabilizar a produção e proporcionar o acesso das pessoas aos bens e serviços produzidos. Isto significa que sem “dinheiro” não haveria produção e consumo no sistema capitalista.

A pandemia de covid-19, ao afetar negativamente as atividades econômicas, estaria colocando a Economia em perigo, pois as pessoas não teriam “dinheiro” para ter acesso aos bens e serviços e, com isso, financiar a produção. Mas será mesmo que a Economia está em perigo neste momento? A pandemia não está destruindo a sua estrutura física e institucional, ou seja, as fábricas, máquinas e o direito de propriedade estão preservados.

O efeito da pandemia, portanto, é sobre a capacidade de obtenção de “dinheiro” — renda — das pessoas. Obviamente nem de todas as pessoas estão sofrendo uma queda na renda, mas apenas daquelas que precisam diariamente obter sua renda, especialmente aquelas vinculadas aos setores informais da Economia. Infelizmente estas pessoas compõem a maior parcela da sociedade. Por isso, estas pessoas são mais relutantes em seguir as orientações de isolamento social.

Imagem de Joel santana Joelfotos por Pixabay.

Existe outra forma das pessoas terem acesso aos bens e serviços essenciais para sua sobrevivência? Desde que seja garantida a produção desses bens e serviços essenciais, o governo poderia oferecer as pessoas afetadas recursos monetários — “dinheiro”. Com este “dinheiro”, as pessoas poderiam garantir o acesso aos bens e serviços essenciais. Essa ação poderia incentivar a aceitação das medidas de isolamento social ou de lockdown na sociedade, pois as condições mínimas de bem-estar estariam garantidas pelo Estado. Nesta situação, por que as pessoas não seguiriam as orientações de isolamento social?

O aumento do isolamento social além de salvar vidas, também reduziria o risco para aquelas pessoas que precisam exercer suas atividades, consideradas essenciais pela sociedade, tais como dos setores de alimentos, energia, comunicação e, obviamente, de saúde. O menor fluxo de pessoas nas ruas reduziria a velocidade de contágio por covid-19 e período necessário de manter o isolamento social.

O debate sobre como “salvar a Economia” tem reduzido a adesão ao isolamento social no Brasil. Assim, os dados mostram o agravamento e o prolongamento da pandemia e de seus efeitos negativos sobre a sociedade e a Economia. Se o governo brasileiro tivesse adotado desde o início uma postura mais contundente no enfrentamento da covid-19, talvez a situação estivesse melhor, com um número muito menor de infectados e de óbitos. Em resumo, o debate sobre “salvar a Economia” apenas tem agravado o enfrentamento da pandemia, além de minar as condições para retomada da produção e do consumo.

Como neste momento, o problema não é necessariamente com a produção, mas sim com a distribuição — acesso das pessoas — , por que o governo brasileiro não garante as condições para que as pessoas afetadas pela pandemia de covid-19 tenham acesso aos bens e serviços?

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