“A dificuldade não está nas novas ideias, mas em escapar das velhas, que se ramificam, para aqueles que foram criados como a maioria de nós foi, por todos os cantos de nossas mentes.” (Keynes, [1935], 1996, p. 29).
Quando você ouve a palavra “Economia”, o que vem à mente? Dinheiro, riqueza, inflação, mercado, talvez? Essas associações comuns, embora pertinentes, arranham a superfície de um conceito muito mais complexo. A “Economia” é frequentemente reduzida a uma série de termos técnicos, o famoso economês², ou a um jogo de números que dominam as manchetes dos jornais e as redes sociais. No entanto, compreender seu significado é crucial, pois a Economia molda, de muitas maneiras não perceptíveis, cada aspecto de nossas vidas.
De acordo com o Dicionário Aurélio, “Economia”, substantivo feminino, é uma ciência que analisa os mecanismos de obtenção, produção, consumo e utilização de bens materiais necessários para a sobrevivência e o bem-estar humano. Esta definição, embora útil, não esgota o potencial da palavra. Por exemplo, o Novíssimo Dicionário de Economia, organizado por Paulo Sandroni, define “Economia” como a “ciência que estuda a atividade produtiva”. “Economia” também se refere ao sistema socioeconômico em que vivemos, um sistema que vai muito além da simples “contabilidade de recursos monetários”.
Essa distinção entre Economia como ciência e como sistema socioeconômico é fundamental para a resolução dos problemas que afligem a sociedade, como as pessoas em situação de desnutrição, sem acesso à moradia ou a outros recursos essenciais para a sobrevivência humana, além das mudanças climáticas e da perda de biodiversidade, etc.
A Ciência Econômica busca compreender e modelar os processos de produção e distribuição de bens e serviços. Já o sistema socioeconômico refere-se às relações humanas e institucionais, apoiadas em elementos técnicos, como máquinas, equipamentos e infraestrutura, e sustentada por uma base de recursos naturais, que efetivamente geram e distribuem esses bens e serviços. No entanto, essas duas dimensões estão intrinsecamente ligadas: nossas teorias econômicas influenciam diretamente a forma como organizamos e operamos nosso sistema socioeconômico.
Mas o que exatamente é esse “sistema socioeconômico”? Segundo o Dicionário Aurélio, um “sistema” é uma reunião de elementos interligados, formando um todo organizado. Aplicando isso à Economia, podemos entender o sistema socioeconômico como um complexo conjunto de elementos – empresas, governos, consumidores, trabalhadores e regulamentos – que interagem para permitir a produção e a distribuição dos bens e serviços que auxiliam na sustentação da vida humana.
Inge Røpke (2020) oferece uma definição interessante, que descreve o sistema socioeconômico como o meio pelo qual a humanidade provê os bens e serviços essenciais para a sobrevivência humana, individual e coletiva. Este sistema, uma criação humana, não é meramente técnico; mas também é social e profundamente influenciado por nossas necessidades, valores e escolhas coletivas. Ao chamá-lo de “socioeconômico”, portanto, reconhecemos tanto seus aspectos técnico-econômicos quanto os sociais que se entrelaçam para formar a base econômica da nossa sociedade.
Essa compreensão é crucial para que possamos avaliar se o sistema socioeconômico está cumprindo seu propósito original: prover os recursos necessários para a sobrevivência e o bem-estar de todas as pessoas e comunidades. E, talvez mais importante, nos leva a questionar se as teorias e modelos da Ciência Econômica estão realmente nos ajudando a entender e melhorar este sistema e, por conseguinte, enfrentar os desafios que afligem a sociedade no século XXI.
À medida que avançamos no século XXI, desafios como a desigualdade social, econômica, gênero, entre outras, as mudanças climáticas e a automação colocam a necessidade de que devemos revisitar nossos entendimentos de Economia e sistema socioeconômico. Precisamos de novas ideias, uma vez que a realidade é dinâmica e complexa, mas também devemos ter coragem para desafiar as velhas, como Keynes sugeriu ainda na década de 1930. A Economia não é uma força impessoal, inevitável e imutável; mas uma importante construção humana que deve servir ao propósito de garantir a nossa sobrevivência.
Universidade Federal do Paraná Grupo de Estudos em MacroEconomia Ecológica – GEMAECO
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