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Políticas de Desenvolvimento para a América Latina e o Caribe: experiências vividas na CEPAL e perspectivas futuras

Lucas Lima

 

O que acontecerá se o desenvolvimento econômico, para o qual estão sendo mobilizados todos os povos da terra, chegar efetivamente a concretizar-se, isto é, se as atuais formas de vida dos povos ricos chegarem efetivamente a universalizar-se? A resposta a essa pergunta é clara, sem ambiguidades: se tal acontecesse, a pressão sobre os recursos naturais não renováveis e a poluição do meio ambiente seriam de tal ordem (ou, alternativamente, o custo do controle da poluição seria tão elevado) que o sistema econômico entraria necessariamente em colapso” (Furtado, 1974, p. 19).

 

Esta epígrafe foi extraída da obra “O mito do desenvolvimento econômico” de Celso Furado, publicada em 1974. Nela, Furtado apresenta três razões que demonstram a impossibilidade da homogeneização do crescimento econômico dos países centrais (ditos desenvolvidos) para os países da periferia (ditos subdesenvolvidos). Primeiro, porque as reservas de recursos naturais são finitas e incapazes de sustentar a padronização/emulação dos padrões de vida dos países centrais; e porque a poluição e o consequente aquecimento da temperatura média do planeta colocam em risco a vida na Terra. A segunda razão diz respeito à presença de empresas transnacionais, que comprometem a autonomia dos países periféricos, limitando seus investimentos e reduzindo sua autonomia no processo de tomada de decisões, enquanto criam mecanismos de fuga para os excedentes de poupança de seus países de origem. Por fim, o autor postula que as estratégias de desenvolvimento dos países centrais não promovem o progresso das nações periféricas, ao contrário, reforçam a concentração de renda entre elites locais e estrangeiras (Lima et al., 2024).

Intrigado principalmente pela primeira razão, isto é, a impossibilidade de homogeneização do crescimento econômico pelos países da periferia devido aos limites socioambientais, me inscrevi para participar do “Programa de Estudos de Políticas de Desenvolvimento para a América Latina e o Caribe” implementado pela Escola Latino-Americana de Estudos de Desenvolvimento (ELADES).

Entre os meses de Julho e Agosto, 29 estudantes de países latino-americanos, europeus e chineses tiveram aulas ministradas pela equipe da ELADES, por funcionários da CEPAL e também por ilustres professores e pesquisadores de universidades da América Latina e do Caribe e de outras regiões do mundo.

Este Programa está estruturado em seis módulos: Introdução ao Desenvolvimento, Desenvolvimento Sustentável, Desenvolvimento Político, Desenvolvimento Econômico, Desenvolvimento Social e Desenvolvimento Pessoal, correspondente a 72 horas cronológicas de aulas presenciais e mais 72 horas de trabalho e pesquisa não presencial.

Créditos: ELADES/CEPAL.

Nesta Escola, vivenciei a experiência de residir em um país estrangeiro pela primeira vez e ter contato com um idioma muito rico e interessante, o espanhol. Além disso, a culinária e a cultura locais são exuberantes.

Créditos: Arquivo pessoal de Lucas Lima.

Nos finais de semana, visitei ecossistemas naturais instigantes no Chile, como um passeio no Valle Nevado e o povoado de Farellones, ambos Cordilheira dos Andes (para conhecer a neve). Também visitei a cidade de San Pedro de Atacama no Deserto do Atacama (com o objetivo de ver as estrelas, constelações e a Via Láctea em um tour astronômico) e as regiões do Valle de la Luna e Valle de la Muerte para experenciar momentos no deserto mais árido do planeta.

 

Créditos: Arquivo pessoal de Lucas Lima.

 

A partir das trocas muito ricas com os participantes da ELADES da CEPAL e com pesquisadores internacionais durante as visitas de campo nos Andes e no Atacama, recomendo a todos (as) pesquisadores (as) essa experiência internacional no Chile! Trago ao Brasil perspectivas de futuros trabalhos sobre desenvolvimento econômico-ecológico considerando as especificidades dos países latino-americanos e do Caribe.

 

Lucas Lima – Pesquisador colaborador do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e membro do Grupo de Estudos em MacroEconomia Ecológica (GEMAECO) da Universidade Federal do Paraná.

 

Referências

FURTADO, C. O mito do desenvolvimento econômico. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 4ª ed., 1974.

LIMA, L. F.; TORRES, M.; ROMEIRO, A. R.; BUENO, C. S. O neoestruturalismo ecológico e as três lacunas do desenvolvimento sustentável. Revista Economistas, edição setembro, 2024. (no prelo)

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