Consumo global de energia primária por fonte: 1800-2023
Fonte: preparado com base em Our World in Data.
“A eficiência energética não é apenas uma questão de fazer mais com menos; é, sobretudo, uma questão de repensar o ‘mais’ e o ‘menos’.”
Por Junior Garcia
A geração de energia é uma das bases da vida moderna e, sem dúvida, essencial para o funcionamento da sociedade. No entanto, é um erro pensar que, por si só, a produção eficiente de energia resolverá todos os problemas socioecológicos, especialmente as mudanças climáticas. Para que a energia chegue até as nossas casas, escolas, hospitais e indústrias, é necessária uma complexa infraestrutura de extração de minerais, transporte e distribuição. Esse processo inclui a extração de minerais, construção de usinas, redes de transmissão e a manutenção de sistemas que frequentemente são ignorados nos debates sobre sustentabilidade. A maior parcela dos recursos são não-renováveis. Ao focar apenas na geração e eficiência energética, sem considerar todo o ciclo necessário, estamos negligenciando uma visão mais ampla e crítica para enfrentar a crise socioecológica que se agrava.
Essa visão limitada se reflete na forma como discutimos a “eficiência” no contexto energético. Na Economia Convencional, o conceito de eficiência energética é frequentemente exaltado como um caminho para o desenvolvimento sustentável. Mas o que realmente significa ser “eficiente”? Em muitos casos, a “eficiência” é tratada apenas como a redução de custos ou o uso de menos recursos em uma fase específica do processo produtivo, como no consumo direto de energia por aparelhos ou veículos. No entanto, para uma análise completa, precisamos observar o ciclo de vida completo dos recursos energéticos — desde a extração até o descarte — para identificar as verdadeiras implicações da eficiência. Vale destacar que não é possível reciclar a energia. Isso significa que uma vez utilizada, a energia não pode ser reutilizada.
Um exemplo claro disso é a pegada de carbono associada ao consumo de energia. Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA), cerca de 40% das emissões globais de gases de efeito estufa foram do setor de energia e da calefação em 2022. Esse dado revela que, embora ganhos de eficiência em setores específicos possam reduzir custos e uso de recursos a curto prazo, nem sempre resultam em menor impacto ambiental de forma geral. A IEA também estima que haverá um aumento significativo na demanda por minerais metálicos e não-metálicos das tecnologias verdes associadas a transição energética. Muitas vezes, a busca por eficiência em um ponto do sistema acaba estimulando um consumo maior em outros, fenômeno conhecido como “efeito rebote ou Paradoxo de Jevons“. Em outras palavras, quanto mais barata e acessível a energia se torna, maior tende a ser o consumo agregado, anulando ou até superando os benefícios esperados dos ganhos de eficiência. As evidências mostram que não há uma substituição de fontes energéticas, mas uma adicionalidade, porque as fontes energéticas aumentaram sua quantidade gerada.
Dessa forma, a ideia de eficiência energética precisa ser compreendida dentro de um contexto sistêmico. Isso significa questionar não apenas como a energia é usada em um ponto específico, mas como é extraída, transportada, distribuída e, eventualmente, descartada. A verdadeira sustentabilidade energética envolve não apenas melhorias tecnológicas para reduzir o consumo de recursos, mas também uma reflexão profunda sobre a demanda e o impacto ambiental cumulativo. A eficiência isolada — sem mudanças na forma como a energia é produzida e consumida — se torna, então, uma ideia superficial, que não responde às demandas reais de sustentabilidade e, por vezes, agrava o problema.
Em última análise, é preciso reconhecer que a eficiência energética, embora importante, não substitui a necessidade de uma transição energética justa baseada em fontes renováveis e em uma reestruturação do próprio padrão econômico de produção e consumo. É urgente a redução do consumo e do desperdício energético. Se continuarmos a tratar a eficiência como a solução isolada para a crise socioecológica, estaremos apenas prolongando a dependência de sistemas energéticos e padrão de consumo poluentes e insustentáveis. Estamos prontos para repensar profundamente nosso conceito de “eficiência” e nossas prioridades energéticas, ou continuaremos a celebrar melhorias superficiais que nos afastam de uma sustentabilidade real?
Junior Garcia – Professor do Departamento de Economia e Coordenador do Grupo de Estudos em MacroEconomia Ecológica (GEMAECO) da Universidade Federal do Paraná.
Notas
¹ O Chat GPT foi utilizado na revisão da redação e organização do artigo.
Tags: energia, renováveis, transição energética